Sempre fui muito saudável. Tive uma infância comum, livre e solta, de pé descalço, alimentos puros, chás de avós, e chamadas de atenção de papai e mamãe... e muito, muito amor. Sim, tive as doenças tidas normais da infância. Cresci, e ao longo dos anos, conto nos dedos as vezes que precisei de atendimento médico-emergencial... talvez duas ou três vezes.
Há 31 anos e 6 meses atrás, em Salvador, Bahia, mais
precisamente no dia 28 de janeiro de 1990, por volta de meio dia, eu estava
acordando de uma cirurgia, não esperada. Depois de uma gravidez sem sustos ou
problemas... absolutamente normal e saudável. Eu estava preparada para um parto
normal... não foi o que aconteceu!!! Após mais de 16 horas de trabalho de
parto, minha filha nasceu por uma cesariana. Até então, estava tudo bem, como
me disseram. Ananda nasceu naquele dia de manhã cedo, respirou e foi trazida
para mim ainda chorando... falei com ela e ela ficou bem, me olhava e eu a
acalmava... Eu não tinha ideia que a
partir daquele momento a minha vida mudaria para sempre... e não seria fácil!
Após mais de 4 horas de espera acordada, num total de 9
horas, e muitas perguntas sem respostas, Ananda veio para o quarto... peguei
meu bebê e amamentei. Meu médico já estava vindo me ver, mas uma pediatra
irresponsável, precipitadamente, entrou e, antes que ele chegasse, me deu a
notícia: “Sua filha nasceu com um problema neurológico e será retardada para o
resto da vida!”. Sim, foi assim mesmo. Duro e forte... Expulsei-a do quarto aos
gritos... Depois, eu soube que ela havia sido demitida do hospital e, também, da
equipe do meu obstetra.
Bem, mas a história estava só começando. Entre, curtir minha
filha e procurar um diagnóstico para possível tratamento foi uma longa jornada.
Essa jornada física é a que vou contar um pedaço agora. Contudo, é bom deixar
claro para vocês, existe uma outra jornada, paralela, de pura bem-aventurança,
amor incondicional e transcendência! Mas, essa ficará para outro dia.
Quando soube do problema neurológico dela, ao voltar para
casa, comecei a aplicar a Shantala antes do tempo indicado. Todos diziam que só poderia fazer isso aos 4 meses,
mas algo me dizia que eu estava certa... então fiz – foi fundamental para o que
estava por vir e ajudou muito nas terapias. Aos 3 meses, minha filha teve a
primeira convulsão... um susto. Desde seu nascimento procurava respostas...
como isso aconteceu e porque aconteceu? Foram centenas de exames que fiz, e não
acusaram qualquer possibilidade... mas era preciso mais. Era necessário que ela
fizesse mais exames e para isso teria que ir ao melhor neurologista e, talvez,
neurocirurgião.
E assim, como sou do Rio de Janeiro, fui para lá com meu bebê.
Encontrei nestes primeiros passos, médicos muito preparados e que foram
extremamente carinhosos e sinceros comigo. O resultado é que consegui o
diagnóstico e, por sua vez, o prognóstico: Um ano de vida, podendo passar disso,
mas para isso... ainda ecoa em meus ouvidos: “Mãe, a sua dedicação ao
tratamento será um divisor de águas para sua filha ter uma vida confortável!”. E,
claro, além da licença maternidade, tirei férias e pedi suspensão de contrato
no trabalho por mais 6 meses, e me dediquei completamente.
Foi isso o que fiz, dedicação integral. E Ananda, também, se
dedicou integralmente aos exercícios, fisioterapias e equoterapia, praia e piscina,
convivendo com as primas e amigos que ela adorava... sempre com alegria e
diversão, ela amava! Com isso ela ficou conosco neste orbe até completar 8
anos. Durante esse tempo, como disse, muitos médicos e terapeutas foram
fundamentais, tanto para ela quanto para mim.
O caminho que tive que seguir para descobrir estas pessoas
maravilhosas muitas vezes foi difícil. Muitas e muitas vezes assinei termos de
responsabilidade em hospitais e emergências por discordar dos procedimentos que
eram comuns, mas não adequados à minha filha. A minha sorte é que encontrei um
excelente neuropediatra e que, depois de algumas experiências ruins que tive
com Ananda em emergências, decidiu assumir completamente o acompanhamento de
minha filha, não só como neurologista, mas também, como o pediatra dela. Numa
ocasião tive de assinar um termo de responsabilidade, porque o pediatra de
plantão queria operá-la e eu não autorizei. Precisei chamar o neuropediatra dela,
que veio pessoalmente ao hospital, para provar que eu não era louca. O
resultado foi que minha filha não foi operada e o diretor do hospital se
desculpou. Esse foi apenas um exemplo... outros aconteceram.
Não, eu não sou o tipo de pessoa que sofre de histeria ou fico
discordando de tratamentos à toa, não sou assim. Mas tenho bom senso e estudei
bastante sobre os problemas que ela tinha. E assim aprendi, a duras penas, que
devemos sempre estar atentos às bulas... questionar nossos médicos sobre as
receitas que passam e sobre os diagnósticos. Se temos algum problema de saúde,
devemos nos informar como funciona, fazer perguntas sobre toda e qualquer
possibilidade de tratamento, cura... absolutamente tudo.
Devemos observar como nosso corpo funciona, que tipo de
coisas sentimos. Cuidarmos de nossa alimentação física e mental. E perguntar,
perguntar sempre. Médicos não são infalíveis, às vezes um detalhe pode mudar
tudo. Portanto, se você, como eu, desconfia... recue. Não faça o que o seu
coração diz para não fazer. Espere, estude, pesquise... Não tenha medo de
enfrentar suas dúvidas, tente dirimi-las.
E se alguém vier dizer que você “TENQUI” isso ou aquilo,
responda “NÃO TENQUO NADA!!!”
Monica Brunini
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